Mestres & Artes # 01 - Júlio Shimamoto, um profissional completo que pavimentou a trajetória do horror nos HQs do Brasil


Júlio Yoshinobu Shimamoto é um desenhista de histórias em quadrinhos, onde ajudou a pavimentar a trajetória do horror em histórias em quadrinhos no Brasil. 


Nascindo em 1939 (81 anos) em Borborena/SP, Julio teve o primeiro contato com os quadrinhos ao ler  Mutt e Jeff, publicada no jornal O Estado de São Paulo, logo em seguida, passou a ler revistas em quadrinhos como O Guri, Gibi, O Tico-Tico e O Globo Juvenil, presenteadas pelo pai e por uma prima.

Ao deparar-se com narrativas dos super-heróis dos comics lutando contra soldados japoneses, desenhou suas primeiras HQs em papéis de embrulho avulsos, mostrando os japoneses derrotando os americanos. Mesmo após o fim da Segunda Guerra Mundial, foi hostilizado e sofreu bullying pela ascendência japonesa.

CARREIRA


Em 1956 resolveu experimentar uma HQ para apresentar a editora Novo Mundo, adaptando o conflito Brasil-Bolívia, tendo como base o livro A Conquista do Acre, ao mostrar ao editor e quadrinista Miguel Penteado, recebeu críticas tanto do roteiros, quanto dos desenhos, contudo, Penteado lhe de uma oportunidade, nesse período, pediu para Shimamoto criar a série Agora sei que, 8 HQs curtas de curiosidades, a nova série substituído a estrangeira Acredite se Quiser de Robert Ripley.

Seu primeiro trabalho no gênero terror foi a Satanásia para a Editora Novo Mundo, logo em seguida, Penteado lhe apresentou ao português Jayme Cortez, que o convidou para desenhar HQs inspiradas em palhaços brasileiros como Fuzarca e Torresmo, Arrelia e Pimentinha e Carequinha e Fred.

 1° HQ do Capitão 7 desenhada pelo Shimamoto
Em 1959, Miguel Penteado e Jayme Cortez fundam Editora Continental, onde Shimamoto desenhou a primeira HQ do Capitão 7, personagem surgido na televisão. seguindo uma recomendação de Jayme Cortez para se inspirar rosto de Flash Gordon de Alex Raymond. Ainda em 1959, ilustrou sua primeira HQ sobre samurais, Os Fantasmas do Rincão Maldito, considerada a primeira HQ brasileira sobre o tema, contudo, de acordo com Shimamoto, a EBAL publicou duas histórias de origem italiana na revista Epopéia: Os 47 Samurais (janeiro de 1957) e O Bravo Samurai (dezembro de 1958).


Entre 1961, Shimamoto integrou a Associação de Desenhistas de São Paulo (ADESP) e foi um dos responsáveis pelo movimento de nacionalização dos quadrinhos, ao lado de Mauricio de Sousa, Ely Barbosa, Gedeone Malagola, Lyrio Aragão, Luiz Saidenberg, entre outros.

Fidêncio, um sobrevivente da Guerra do Paraguai.
Em maio de 1963, Maurício de Sousa lhe encomendou uma tira de aventura, inicialmente, pensou em fazer um cangaceiro, mas o escolheu a tira O Gaúcho, para o Suplemento Infanto-Juvenil do jornal Folha de S.Paulo, para o mesmo jornal, produziu quadrinhos sobre o futebol paulista.

Em 1964, dividiu o tempo entre a prancha semanal de O Gaúcho e storyboards para a agência de publicidade McCann Erickson, onde havia sido indicado por Lyrio Aragão e Luiz Saidenberg. Em 1965, O Gaúcho para de ser publicada e Shimamoto continua trabalhando com publicidade.

Em 1975 já morando no Rio de Janeiro, por intermédio de Paulo Hamasaki, diretor de arte da Editora Noblet, a tira O Gaúcho foi republicada nas páginas da revista de faroeste Carabina Slim, de origem italiana. Na mesma editora, ilustrou contos escritos por Rubens Francisco Lucchetti publicados na versão brasileira de Vampirella da Warren Publishing.

Apesar de o trabalho nunca ter chegado às salas de cinema, 
Em 1977, foi o vencedor, junto com os publicitários Jacques Lewkowicz e Paulo Hiroshi do 2º Concurso do Cartaz do Cinema, promovido pelo Clube de Criação do Rio de Janeiro (CCRJ), dentro da Campanha de Nacionalização do Cartaz de Cinema, para a criação de um cartaz nacional para o filme King Kong. O trabalho nunca chegou a ser utilizado, no entanto, a peça foi acusada ser um plágio de uma capa da revista erótica Hustler, de acordo com Marco Lucchetti, a tal capa revista americana nunca existiu.

Em 1978, para o suplemento Pingente do jornal O Pasquim, ilustro A Maldição do AI-5, roteirizado por Reinaldo e Nani.

Além de ilustrar histórias de O Fantasma de Lee Falk para Rio Gráfica Editora, nessas histórias, Shimamoto não era creditado, mas colocava o nome "Shima" escondido nas cenas, tal qual Renato Canini em Zé Carioca da Editora Abril. Também para a RGE, ilustrou uma versão em quadrinhos da série de televisão Carga Pesada da TV Globo.

O samurai Myamoto Musashi teve HQs produzidas por Shimamoto.

Em 1986, ilustrou o álbum Nos Tempos de Madame Satã, roteirizado por Luiz Antônio Aguiar, para a Editora Marco Zero.

Em 1995, publicou num álbum da revista Heavy Metal só com autores brasileiros.

Em 2002, Shimamoto recebeu uma homenagem da Câmara Municipal de São Paulo e em 2005 recebeu outra homenagem, dessa vez a Moção de Congratulação nº 230/05 pela Câmara Municipal de Jaboticabal.

Biografia sobre Miyamoto Musashi
Pela editora Opera Graphica, publicou duas graphic novels sobre o samurai Miyamoto Musashi": Musashi I (2002) e Musashi II (2003). Participou dos álbuns Sertão Vermelho - Lampião em Quadrinhos (2004) e Sertão Vermelho - Lampião em Quadrinhos 2 (2005), com roteiros de Haroldo Magno, os álbuns forma financiados com apoio da prefeitura e empresas locais de Paulo Afonso, na Bahia.

Em 2007, foi convidado de honra e homenageado no 5º Festival Internacional de Quadrinhos, tendo o Japão como país homenageado.

Em 2008, ilustrou o livro BANZAI! História da Imigração Japonesa no Brasil para as comemorações do Centenário da Imigração Japonesa, roteirizada por Francisco Noriyuki Sato, com colaboração de Paulo Fukue (roteiro) e Adauto Silva (desenhos)[2][32] e publica 12 páginas do que seria um terceiro álbum da série Musashi como um encarte do fanzine QI de Edgard Guimarães.

Em 2009 publica Samurai, uma coletânea de histórias sobre samurais, ninjas, entre outros artistas marciais pela EM Editora (na verdade um selo da Mythos Editora), pela mesma editora, ilustra os livros "Lendas de Musashi" e "Lendas de Zatoichi", ambos escritos por Minami Keizi além de Painkiller, quadrinhos para telefone celular da Operadora Oi, com roteiros de Fernando Azevedo e cores e letras de Adauto Silva. Além das publicações tradicionais, colabora com fanzines e publicações independentes.

Em 2011, surgiu um projeto de um curta de animação baseado na história O Ogro escrita por Antonio "Toni" Rodrigues e ilustrada por Shimamoto publicada na revista Calafrio #27 em 1984, colaborou com a animação produzindo model sheet dos personagens. Em outubro de 2017, publicou uma história na revista Neo Tokyo da Editora Escala.

Em dezembro de 2019, com 80 anos de idade, Julio Shimamoto foi homenageado no Artists’ Alley da Comic Con Experience, além de confirmar presença no evento, Shimamoto assina o pôster do espaço.



INFLUENCIAS


Júlio Shimamoto é um profissional completo e um gênio das HQs por opção — visto que, como diretor de arte, obteve amplo reconhecimento no mercado publicitário; também é argumentista talentoso, além de emérito desenhista. Inovando em técnicas de ilustração, inspirando jovens talentos e inscrevendo-se na história do entretenimento nacional por meio de pesadelos em preto-e-branco que tiraram o sono de gerações de leitores, Shimamoto honra a fibra de seus descendentes samurais batalhando, incansável, pela consolidação de um autêntico mercado de quadrinhos brasileiro.

O próprio Shimamoto ressaltou sua narrativa:

"Na HQ, os personagens tem que ser movidos à adrenalina, provocativos, senão o leitor boceja."

Para o quadrinista e professor universitário Gazy Andraus:

"Mas é também verdade que sua herança cultural nipônica influenciou seu estilo, que passa ao largo do padrão-mangá em muitos pontos, enquanto conserva dele o ritmo ágil de ação visual."

Para Claudio Seto, que foi seu editor na Grafipar em Curitiba:

"Creio que se o Mestre Shima tem algo a ver com o mangá é na narrativa sequencial, mas acho que é involuntário e mais recente. Pois começou quando ele desenhou, quase dez anos depois, a revista “Kiai”, para a Grafipar. Como os golpes marciais exigiam desenhos em sequências didática para serem melhor entendidos, Mestre Shima passou a desenhar assim."

A versatilidade de Shimamoto tem em artistas como Watson Portela verdadeiros admiradores:

“Ele já desenhava no formatinho gibi e conseguia trabalhar em até três planos. Eu só conseguia isso se desenhasse em formato maior”.

TÉCNICAS


Shimamoto usa diversos materiais para desenhar como bexigas, sacos plásticos, caixas de papelão, azulejos, cerâmicas brancos para obter um efeito xilográfico e mais recentemente, ferro de solda.

Em Sombras, publicado em preto e branco pela Opera Graphica, Shimamoto inverteu, ao invés de desenhar com tinta preta em papel branco, desenhou em cartolina preta com tinta branca.




OBRAS


Tiras:


  • O Gaúcho (Folha de S. Paulo, 1964-1965, republicado na revista Carabina Slim pela Editora Noblet e de forma independentes pelas editoras SM Editora e Júpiter II de José Salles.


Revistas:


  • A Múmia Viva
  • Billy The Kid & Outras Histórias[50]
  • Carga Pesada (RGE, início dos anos 1980)
  • Calafrio
  • Carabina Slim
  • Coleção Assombração (Ediouro, 1995)
  • Capitão 7
  • Fêmea Feroz
  • HQ - Revista do Quadrinho Brasileiro
  • Kiai - Faixa Preta em Quadrinhos
  • Mestre do Kung Fu
  • Mestres do Terror
  • Metal Pesado
  • Neo Tokyo
  • O Fantasma (RGE (anos 1980)
  • Pesadelo
  • Sobrenatural
  • Spektro


Livros:


  • Lendas de Musashi (escrito por Minami Keizi)
  • Lendas de Zatoichi (escrito por Minami Keizi)
  • Breganejo Blues (escrito por Bruno Azevêdo)
  • Era uma vez um rio (escrito por Anne Raquel Sampaio)
  • Sketchbook Custom (2016)
  • Goiânia, uma cidade sombria (2018)


Compilações:


  • Volúpia (Opera Graphica), 2001) (material publicado pela Grafipar entre 1978-1981)
  • Shima - HQs clássicas de um samurai dos quadrinhos (Marca de Fantasia, 2007)
  • Samurai (Mythos Editora, (2009)
  • Sombras – Edição especial (Atomic Editora, 2014)
  • O Primeiro Samurai (Criativo Editora, 2017)
  • Contos de Horror (Atomic Editora, 2018)
  • Tenebris (Criativo Editora, 2019)
  • O Ditador Frankenstein e outras histórias de terror, tortura e milicos (contendo 12 histórias, 11 delas produzidas durante a Ditadura militar brasileira entre 1978 e 1986, em parceria com Luiz Antonio Aguiar, Luscar, Nani, Reinaldo Figueiredo e Maria Emília Kubrusly, Editora MMarte, 2019)


Álbuns:


  • Sombras (Opera Graphica, 1998)
  • Mirabilia (escrito por Wellington Srbek e desenhos de Júlio Shimamoto, Klévisson Viana e Flavio Colin, Tupynanquim, 2000)
  • Musashi I[28] (2003)
  • Musashi II[28] (2003)
  • Madame Satã: Cassino (2003)
  • SUBS (2006; Ulisses Tavares e Júlio Shimamoto)
  • Claustrofobia (Devir Livraria, escrito por Gonçalo Júnior)
  • Sertão Vermelho - Lampião em Quadrinhos (capa), escrito por Haroldo Magno com desenhos de Edvan Bezerra
  • Sertão Vermelho - Lampião em Quadrinho 2, escrito por Haroldo Magno com desenhos de Edvan Bezerra, Eugênio Colonnese e Vítor Barreto e capa de Rodolfo Zalla.
  • Até Que a Morte Nos Separe (Editora Noir, escrito por Gonçalo Júnior)
  • Duetos Essenciais, em parceria com Edgar Franco (Marca de Fantasia)
  • Cidade de Sangue (MMarte Produções, argumento de Márcia Deretti, roteiro de Márcio Jr.)


Mestre Julio Shimamoto - 81 anos

Por Junior Solid

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1 Comentários

  1. Incrível como temos talentos que não são valorizados, obras impressionantes e belíssimas. Parabéns.

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